Carta

Cansei de gente que não acrescenta, que conta os beijos e não compartilha os sentimentos. Que não sabe ouvir, e fala tanto que, quando cala-se, até esquece do que realmente acredita. De gente que só tem opinião, e sempre pejorativa, quando atacado. Do contrário mantém-se imparcial e morno. Não gosto do egocentrismo e da falta de reconhecimento que encontro em você. Ser amigo é valorizar o que o outro é e, acima de tudo, considerar o que ele tem a dizer, tendo a certeza de que a intenção é sempre a de colaborar e catalisar a vida, sem coibir o que o outro pensa. Detesto quando você resume num palavrão ou numa frase pífia o que poderia ser um bom momento para diálogo e troca de filosofias. Detesto que mal ouça o que eu digo e, mesmo quando ouve, assente com a cabeça como quem diz: “terminou?” e engata um assunto besta, sem propósito e que não nos une, nem interessa aos dois, que sequer interessa a alguém. Temo ser injusto, mas temo ainda mais perder a minha liberdade de julgar o outro e analisar onde nossos caminhos se encontram e onde eles se perdem. Aliás, quase não encontro mais o trajeto em que estávamos perpendiculados, e fico a questionar quando foi que deixamos de seguir juntos.